Apresentação

OS LAKLÃNÕ/XOKLENG POR ELES MESMOS

A chegada dos imigrantes europeus em Santa Catarina, precisamente no Vale do Itajaí, gerou muitos ataques e perseguições ao povo Laklãnõ-Xokleng, pois, os recém-chegados passaram a ocupar grande parte do território e os povos originários buscaram se manter dentro do seu território tradicional, empreendendo forte resistência e contra-ataques.

Neste sentido, este grupo conseguiu sobreviver até o dia em que, de comum acordo, resolveram se render. Sabiam que já estavam fracos, pois milhares de seus irmãos já estavam mortos. O dia do primeiro diálogo dos Laklãnõ-Xokleng com não indígenas, a chamada “pacificação’’, ocorreu no dia 22 de setembro de 1914, por Eduardo de Lima e Silva Hoerhann (acompanhado de outros Indígenas Kaingang do Paraná). O “pacificador” representava o Serviço de Proteção aos Índios e Localização dos Trabalhadores Nacionais (SPILTN, que a partir de 1918 passou a ser apenas SPI) que foi criado a 20 de junho de 1910, pelo Decreto nº 8.072, tendo por objetivo prestar assistência a todos os índios do território nacional (Oliveira, 1947). Esse povo tem, portanto, 102 anos de resistência após o contato com não índios.

Atualmente a Terra Indígena Laklãnõ está inserida em quatro municípios: José Boiteux; Doutor Pedrinho; Vitor Meireles e Itaiópolis. Encontra-se organizada em oito Aldeias: Sede, Bugio, Figueira, Toldo, Coqueiro, Palmeira, Pavão e Pli Pa Tól. Nela existe também uma aldeia Guarani: a Takuaty. Segundo dados da FUNAI de 2016, a população é de aproximadamente 878 famílias, em torno de 2.203 indígenas e constituída principalmente pelos sobreviventes do povo Laklãnõ-Xokleng e alguns descendentes do povo Kaingang e Guarani Mbya, que migraram para a TI ao longo da história.

A questão da demarcação da terra continua em processo no Supremo Tribunal Federal (STF) em Brasília, desde 2007, abrangendo 23 mil hectares. Apenas 14 mil hectares são homologados e ocupados para usufruto da comunidade Laklãnõ-Xokleng.

A organização sociopolítica é realizada pela própria comunidade indígena. As eleições de caciques presidentes e caciques regionais, com auxílio de urnas, tiveram início a partir dos anos 1990. Durante os anos de 1960 a 1980 eram feitas eleições usando milho e feijão. O Sr. Aristides Faustino Criri liderou a comunidade durante décadas. Há a escolha de um juiz eleitoral e um de direito, indicado pelos caciques regionais, que organizam as eleições regulares. O juiz de direito faz valer leis sobre a comunidade e lideranças.

No âmbito econômico, as principais funções exercidas são professores, agentes da FUNAI e SESAI. Há também aposentados, pensionistas, agricultores e uma grande quantidade de trabalhadores das mais diversas funções pelo motivo da terra indígena não ser produtiva economicamente.

Apesar desses aspectos cresce a produção de artesanato: arcos e flechas, instrumentos musicais, prendedores de cabelo, colares, pulseiras e brincos. Essa interação tem ampliado a consciência de que devem se organizar em associações e cooperativas para que tenham melhor representatividade e resultado mais efetivo.

A culinária dos Laklãnõ-Xokleng, pela falta da caça, pesca e coleta, está restrita. Porém tem como destaque o peixe assado em folha de caeté, e diversos pratos nos quais predomina o milho e a mandioca. Cabe destacar que os conhecimentos que possuem sobre o poder curativo das plantas medicinais, com as quais tratam diferentes doenças, têm resultados positivos.

A grande maioria deste povo é evangélica pentecostal. Na TI há diversas denominações religiosas as quais são bem vistas nesta comunidade. A congregação Assembleia de Deus é a que possui maior número de religiosos.

Ao longo do processo de contato, muitos aspectos culturais Laklãnõ-Xokleng foram deixados de lado, e isso teve a contribuição de vários fatores, como a chegada da primeira escola e a imposição do ensino da língua portuguesa, quando a língua tradicional foi aos poucos sendo menos falada, deixando de ser a língua materna em muitas famílias. Outro aspecto foi o casamento de membros do povo com Kaingang e principalmente com pessoas não indígenas, elevando muito rapidamente o índice de não falantes em poucas décadas.

Estas interferências fizeram com que muitos saberes tradicionais deixassem de ser praticados e repassados de pai para filho, pois poucos mantinham estes ritos, deixando-os de herança aos seus descendentes que ainda preservam estes saberes.

Texto dos professores Copacãm Tschucambang e Josiane de Lima Tschucambang

Extraído do livro CONSCIÊNCIA LAKLÃNÕ-XOKLENG EM AÇÃO: JEITOS DE ENSINAR E APRENDER NA TERRA INDÍGENA LAKLÃNÕ

ÃG TÕ LAKLÃNÕ-XOKLENG ÃG JÁKLE VÃNHLÓ ZI KŨ: ÃG JÓBA MẼ ÓG JÁVÃN KŨ TÕ ÓG ZE JÓGPALAG JÃ (no prelo)